A razão é virtude em extinção, neste espaço se tenta preservar essa conquista desprezada, lembrar que a vida não está resumida à frágil visão humana.

PENSE

Seja ambicioso nos seus desejos, busque sempre o que é infinito, eterno, completo e intransferível.

O maior bem que se pode conquistar é a perfeição, seja sábio e não se contente com menos.

A matéria é apenas a mina onde garimpamos nosso conhecimento, cada pedra do nosso caminho é o tesouro que buscamos ainda bruto e aguardando lapidação.
Tenha sempre em mente essa idéia e nada haverá de lhe faltar.
Venha ser alguém que acrescenta algo à existência sem exigir mais do que ela lhe dá.

SALVE O MUNDO, COMECE POR ALGUÉM!


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

LIVRO II - À LUZ DA RAZÃO - 2ª PARTE Cap. II

CAPÍTULO II


O ESPÍRITO HUMANO DE ONTEM AO AMANHÃ
“A essência do Humanismo”

A “filosofia” encerra em si mesma seu próprio sentido, “amor ao conhecimento”, consagração respeitosa dos antigos gregos ao “Saber”, “este se sobrepõe ao homem e o eleva”, “aproxima-o de sua essência”. O entendimento do termo “filosofia” expressa diretamente o conceito pretendido, conjuga prontamente a ação e a cognição, traduz qualquer evento em suas razões e, quando ocorre apenas a superficialidade do que se relaciona a ela, tenha certeza, o observador é o responsável pela escassez de profundidade nesse envolvimento, pois tudo o que esta não “toca” se obtém, quando muito, um singelo “contato”.

Somente se expressa a filosofia às entidades que exigem razão, entendimento, abrangência, explicação, entre outras, mas.., sempre, comprovando ou, no mínimo, justificando suas razões baseando-se em profundas reflexões que jamais presumem o fechamento da questão. Logo, é óbvio notar, ser esta, a essência de todo o conhecimento humano, tanto quanto o “espírito do melhor vinho” e, injusto seria, referirmo-nos aos filósofos rigorosamente restritos aos padrões de acepção específica do termo, ou seja, “o pensador” no sentido absoluto, desprezando, o cientista, o artista sob vários aspectos, o professor mais muitos outros e, radicalizando, até mesmo, o bom “conselheiro” se a eles estiver atrelada a razão e o propósito do desenvolvimento comum, mas.., vamos a Eles:

—Houve um homem cuja envergadura ética e filosófica fora de tal expressão, que concluiu por balizar as fronteiras da História da Filosofia Humana no “antes e o depois” da sua existência entre nós. Podemos, sem receio de errar, considerá-lo como o primeiro “Cidadão” universal, pois, sem que deixasse uma única palavra escrita de próprio punho, exerceu o mais significativo exemplo de conduta racional do relacionamento humano. Foi fraterno em todas as oportunidades que dispôs, foi herói inconteste, cumprindo seu dever cívico com devoção, sendo destacado nas milícias gregas, por haver mais arriscado a própria vida em preservar a dos companheiros, do que em travar com o inimigo, a batalha1, compreendeu desde jovem o respeito aos seus deuses2 como prescrevia a cultura e a ética daquele período sem externar com ostentação sua devoção, jamais permitiu passar ocasião de transmitir seu conhecimento sem que o fizesse, de vida e hábitos humildes não cobrou ou sequer recebeu como dádiva compensação pelo que ensinou, não selecionou em qualquer momento a quem transferir sua sabedoria e, se avaliada a verdadeira síntese de sua vida, o “milagre por ele praticado” foi, exatamente, nunca ter praticado milagres, sua vida foi do princípio ao fim um “crescer” ininterrupto sem saltos ou desvios, provou com o seu modo de existir, que a evolução é “fluída” e a todos disponibiliza sua substância balsâmica, basta sorvê-la, para ele, a “Lei” era a única proprietária dos direitos e a ela submetia a vida e, por interpretação maliciosamente equivocada desta pelos seus algozes, optou pelo cálice do sacrifício para não contrariá-la, ocasião esta, que o imortalizou nas escritas de Platão e Xenofonte que reproduziram, segundo os próprios modos de ver de cada um, o “Discurso” em sua defesa contra “os sofistas” que, por fim, foram também, muitos dos seus julgadores, foi o primeiro homem a entender que quanto maior a sabedoria mais certeza esta inspira da nossa falta do “saber”, sendo que sua frase mais lembrada expressa: – “...Quanto mais aprendo, mais sei que nada sei...”, ou ainda, “...Só sei que nada sei...”. É certo que só se poderia estar referindo a Sócrates1, personagem real, entretanto, somente referido após sua passagem pela vida, cuja única exceção conhecida é, justamente, a letra que lhe antagoniza caricaturando-o, Aristófanes, um comediante que o satiriza quando este contava por volta de cinqüenta anos ou pouco menos.

Segundo os relatos mencionados, o senso de justiça praticado por Sócrates é digno de veneração dos mais ilustres advogados e magistrados contemporâneos e é lembrada, do seu “Discurso”, a manifestação dessa virtude na expressão que versava mais ou menos o que segue: – “...Creio não haver justiça em rogar ao juiz, recebendo a absolvição pela súplica; este deve ser esclarecido e convencido dos fatos...”. Era ele, convicto da transcendência do Ser ao corpo, reencarnacionista por excelência, pois não defendia singelamente a separação da alma ao organismo, porém, que esta migrava sempre à “matéria” até concluir seu aprimoramento pessoal, a humildade era a tônica de sua vida, a honestidade era a própria expressão do seu “Ser”, e exemplo disso, foi a sua reação a uma possível fuga que lhe propunham os amigos respondendo: – “... É desonesto consumar o que não é justo ainda que para contrapor uma injustiça praticada, ...a vida é menor do que a verdade...”. Pregou a quantos pode fazê-lo que; – “... ninguém tem o poder de fazer o mal porque é certo que a virtude é atributo da sabedoria...”, o que nos induz a concluir que, no máximo, somos mero instrumento de aperfeiçoamento alheio, ao praticarmos ato delituoso, o que põe por terra, a medíocre idéia de “castigo”.

Independentemente do julgamento fático de Sócrates, a História o absolve e o enaltece e aos seus julgadores condena, mediando suas conclusões e permeando seus principais biógrafos, os vemos apontando o devoto e cultíssimo discípulo Platão e um outro, também dedicado seguidor, porém, de pouca expressão cultural cujo cabedal ideal era frágil, Xenofonte e, ainda, um caricaturista teatral contemporâneo, que lhe opunha hostilidade sarcástica, até porque, isso lhe rendia fama e renda, Aristófanes e, por fim, alguém que assumiu admirável respeitabilidade relativa aos seus predicados filosóficos, entretanto, locupletava-se, ainda que com bons propósitos, da fantástica força do “Socratismo” servindo-se deste para justificar seus entendimentos, este “aristotelizava” Sócrates, e é correto saber tratar-se de Aristóteles que, sem medo de errar, o dizemos discípulo de Sócrates através de Platão.

Não se pretendeu nesta escrita, sobrepujança de Sócrates a Jesus de Nazaré, ao citar que o primeiro não manifestava milagres espetaculares para ser quem, de fato, era, um homem excepcional, todavia, os que relatam sobre o “Filósofo” portavam, a maioria, reconhecida qualificação filosófica racional e, fortuitamente, a História permitiu, por meio da torpe crítica contestativa de Aristófanes, a necessária ponderação da narrativa, o que a conduziu a um entendimento sensato de predicados, e por isso, o designamos aqui, de “Cidadão Universal”. A Jesus não ofereceram essa via registrária, pois seus “devotos” eram mesmo devotos e com isso construíram o “Cristo1” uma figura messiânica cujos predicados vão além dos orbes humanos, citam-no mesmo, “Deus” subtraindo-lhe, com isso, a identidade que lhe seria própria. Ora.., o fantástico homem Jesus assumiu contornos que a ingenuidade humana atribui a falsos deuses, a exemplo de “Zeus”, “Odin” e tantos outros. A ausência de relatos isentos e críticos ou, ao menos, desapaixonados, ofenderam sua figura Humana, adornando-lhe com “penduricalhos” baratos indignos de sua Majestade verdadeira. O “Profeta”, sua segunda qualificação postiça, tentando exaltá-lo, também o diminui, pois sua abnegação a humanidade não foi equivalente a um cigano que prevê o futuro ou a um adivinho de palco. E mais, seus versados1 “milagres” são praticados no mundo inteiro ainda hoje e por pessoas que sequer de longe visualizam a magnitude do “Espírito” Jesus. Do seu martírio já se conheceu piores e os que sofreram-nos pouco ou nada legaram à humanidade.

Devemos, de uma vez por todas, admitir que a grandeza de Jesus está no fato de ser ele um de nós que “viveu” mais e exemplificou o que ensinara, a consciência de galgarmos seus píncaros em um futuro, “quanto antes melhor”, é o que nos impregna o Ser da sua virtude. Os capítulos e versículos disputados “a pau” pela insídia “sacerdotal” de todos os credos, não oferecem significado algum se foram originados de um deus que, ao contrário de sentir na “carne”, promoveu um jogo de cena para impressionar as multidões. O “Homem” Jesus viveu a demonstração da sua proposta e revolucionou o mundo amando para curar as feridas dos que odiavam, ensinando para iluminar as trevas da ignorância, não fez nenhum “milagre” para livrar a dor de poucos, realizou, porém, o impossível para despojar da privação evolutiva a Humanidade, e o “milagre”, então, ainda está por vir, quando esta sentir no Espírito o seu convite à reflexão e crescimento, pois que ainda “não sabemos o que fazemos”.

É conclusivo, portanto, que as lições de Sócrates e os exemplos de Jesus se entrelaçam, indicando que há continuidade no caminho evolutivo, não meros efeitos comparativos que induzam à uma efêmera disputa de “quem é o melhor”, confirmando a analogia feita à introdução desta que “a vida é uma escada infinita...”, cabe-nos entendê-los, praticá-los, vivê-los, porém, jamais “santificá-los” afastando-os assim, do nosso alvo por torná-los inatingíveis, eles não foram “escolhidos”, escolheram-se, lutando para atingir seus objetivos que, “somos nós”. Será nossa obrigação, “escolhermo-nos” e aos próximos “objetivos” que serão, o “nosso próximo”, assim, prossegue a evolução.

A conscientização histórica não nos permite cometer injustiça em desfavor, principalmente, de quem merece o verdadeiro reconhecimento humano. O homem responsável pelo respeito endereçado a Sócrates foi Platão, seu principal discípulo, um filósofo “Iluminado” e, do ponto de vista técnico, em termos de filosofia, suplantou o “Mestre” largamente, essencialmente, no que respeita a grandeza atribuída a Sócrates, pois é sabido que muitas virtudes, reconhecidamente, cabíveis a si, este transferia ao virtuoso que o precedera buscando elevar-lhe os dotes naturais, fato percebido pelos perspicazes estudiosos de suas escritas, sendo que estas denunciavam a identidade do segundo impregnada ao primeiro, isso não deprecia o “Mestre”, entretanto, eleva deveras, o “Discípulo”.

Já demonstradas as razões históricas dos motivos que justificam ser a ilustre figura de Sócrates a linha divisória das “águas” da filosofia, “linha” essa que, em período anterior a Sócrates mais “quantifica” os relatos filosóficos com algum detalhamento melhor especificado no que se refere a “Polis1” Mileto, berço de Tales, Anaximandro e Anaxímenes, sendo que “Tales de Mileto” é o primeiro filósofo que se tem registro histórico cujos indícios, apontam o final do século VII e princípios do VI a. C. como o período que ele esteve entre nós, Anaximandro lhe é contemporâneo e Anaxímenes que aqui permaneceu ao redor do século VI já em direção ao V a. C. Se a História quantifica o período pré-socrático, em verdade, o “vulto” de Sócrates, literalmente obriga, que esta “qualifique” e com riqueza de detalhes o que se seguiu após sua influência sobre a Humanidade, aspectos estes, que serão considerados à frente.

Se Mileto contribuiu com filhos seus para a filosofia, haveremos de nos deparar pouco adiante, com a “mística” figura de Pitágoras que, aparentemente, participou da nossa vida na “polis” de Crotona ao final do século VI, originário da “Jônia”. “Aparentemente”, porque os registros disponíveis não são suficientes a corroborar a exigência da Ciência Histórica e, nada se afirma em ciência, sem absoluta comprovação, portanto, por esse aspecto, “Pitágoras” é ainda, especulação com fortíssimos indícios de realidade, não pode porém, ir além. Mesmo assim, os relatos encontrados dão conta de um homem com características de extrema polêmica dialética, pois dava evidências de acentuado misticismo e simultaneamente ensinava relações matemáticas que foram suficientes a satisfazer os mais cépticos em todos os tempos, vejam.., ele nos entregou uma imagem esotérica enlaçada no mais puro racionalismo científico, condições radicalmente conflitantes em um único Ser. Contudo, isso é explicado pelo tratamento dado aos entendimentos matemáticos por ele sintetizados, na verdade, ele fez dos números a sua “religião”, assim, exercia seus aforamentos pessoais às demonstrações matemáticas que produzia, transladando para uma dimensão extra-sensorial coisas que somente seriam existentes no plano ideal. Logo, os números que são apenas “entidades” de grandezas abstratas para projetar “justezas” no plano real ou material adequando-as às necessidades técnicas construtivas ou apoiando novas estruturas mentais para, enfim, vir à materialidade em forma de “utensílio” prático ou didático por comparação de dados, findaram por ocupar lugar no pensamento místico.
Nos “tempos” pré-socráticos, um fato é digno de aprofundamento, pois encontramos em Tales, Anaximandro e Anaxímenes o objetivo comum de explicar o princípio único da existência. Cada um o interpretava de uma forma e, de acordo com entendimento próprio, indo-se aos extremos da austeridade crítica analítica, esbarraremos na hipótese de que, de fato, pouco sabiam ao que se referiam, mesmo porque, esse assunto é, ainda hoje, sem solução rigorosamente racional e, existem apenas sistemas melhor elaborados, por questões de acúmulo de conhecimento científico-tecnológico, todavia, é espantosa a “feroz” intuição constatada naqueles, basta que se confronte a exposição de idéias que pregava Anaxímenes às atuais e bem fundamentadas teorias com parte delas comprovadas experimentalmente ou, ao menos, matematicamente possíveis; aquele dizia: – “...O ar é a origem das coisas, é respiração, portanto, vida, este rarefeito é o fogo e, sucessivamente, em condensação crescente a água, a terra e o que mais se conhece, logo, tudo se resume à maior ou menor densidade deste...”. Absurdo, não..? Mas, vamos verificar a mais avançada e sofisticada teoria da existência universal; ela afirma, com poucas reservas cautelosas de praxe, que o universo é o resultado “explosivo” do extremo adensamento da energia que, em um momento virtual, extravasou em direção à matéria. E continua a exposição nos demonstrando que a matéria é, de fato, um condensado energético, e isso, hoje já se tornou incontestável.

Ora..! que “diferença” existe em alguém que extraiu, somente do silogismo próprio, a idéia de “etéreo” usando das informações que dispunha, ou seja, nenhuma, para ir à essa conclusão, o ar, por exemplo..? e um “super-homem”, que pensa com auxílio de equipamentos que quase raciocinam, com o acúmulo de conhecimento humano de milhares de anos de reflexões exercidas por bilhões de homens, sendo que o último se preparou cientificamente por muitos anos em escolas que resvalam a utopia, recebendo, muito provavelmente, como informação preliminar desse preparo que: “...O primeiro homem que questionou a unicidade universal foi Anaxímenes...”. Ora..! “Anaxímenes” é um gigante, e o nosso fantástico “super-homem”, menos que um “micróbio”.

Agora vamos provocar, violentamente, o Amigo Leitor; a este se informará, absolutamente destituído de temores, que o “gigante” e o “micróbio” são, exatamente o mesmo, se enfocado o ponto de vista do Espírito Humano.

Primeiro vamos admitir a espiritualidade; que seja apenas um postulado, não importa! Posteriormente, busquemos na Lei probabilística a viabilidade da existência de “... várias moradas na casa do meu Pai...”, logo, muitos “mundos” estariam, eventualmente, no estágio evolutivo correspondendo ao período de Tales ou Anaxímenes. Agora, nem precisamos admitir a “morte” física do nosso “micróbio”, pois ninguém contesta o fim do corpo quando não se questiona o “depois”. Mas, devemos aceitar com o espírito “aberto” que podemos, em tese, migrarmos a lugares outros, o que viabilizaria o nascimento do referido “micróbio” num lugar compatível à época invocada a Mileto. Assim, lá existirá alguém com um cabedal fenomenal, porém, agrilhoado às dificuldades da “encarnação”, o seu “brilho” intelectual está afetado pelas severas condições de um “tempo” clássico, a memória, por exemplo, todavia, o conhecimento acumulado está lá; é presente e vivo, entretanto, sem meios externos de amparo lógico e, muito menos, tecnológico, mas.., ele sabe que tudo é resultado do “éter” e, por falta de parâmetros reflexivos se permite apenas ser introspectivo, absorvendo do meio suas próprias convicções do momento, como porém, dispõe de pouco mais do que nada, arremete ao que melhor se lhe assemelha a “bagagem” e lança mão do argumento, pois que este, em essência, é sólido e puramente racional, só não consegue demonstrar nos termos disponíveis da época em questão, portanto, “proclama”: – “...O ar é a origem das coisas, é respiração, portanto, vida, este rarefeito é o fogo e, sucessivamente, em condensação crescente a água, a terra e o que mais se conhece, logo, tudo se resume à maior ou menor densidade deste...”. Está aí, o vosso “gigante”! E, algum dia.., alguém sem importância, ira fazer o comparativo que o Caro Leitor acaba de ler.

Pouco antes de Sócrates, no século “V” a.C., notaremos mudanças de direção no campo da filosofia, os persas em guerra com os gregos acabam por influir no pensamento grego por conseqüência do afastamento cultural entre os “colonos” da Grécia asiática e os da Grécia itálica, o Mar Egeu, via natural de contato, estava interrompido, curiosamente, persistiu a tese fundamental comum a ambos os lados, ou seja, o “princípio único da existência”, proposições divergiam nos dois lados do Egeu, mas todas direcionadas ao objetivo comum, explicar a unicidade primordial. Encontraremos Heráclito cujo tema era o “encontro dos contrários” formando um conjugado de oposições que mantinham o equilíbrio das coisas e dos acontecimentos, Parmênides radicalmente oposto ao primeiro dizia que “o que é, não há como não ser” e “algo não pode ser seu próprio oposto”, assim, o “equilíbrio” seria mera “ilusão”, ao observador, esta contraposição seria a resposta a Heráclito, pois as opiniões eram tão extremadas nas direções contrárias, que, se ocorresse opinião central, aparentaria, retoricamente, o “equilíbrio” de “Heráclito”. Na verdade, o que o autor findou por demonstrar ao Caro Leitor usando dos pensadores, foi um “argumento” dos sofistas, aqueles, que em futuro breve atormentariam Sócrates.

Ainda que, por meios sofismáveis, seja possível iludir a razão quando esta vem despreparada, as duas teses acima são dignas de “aprofundamento” por confrontação mútua e, posteriormente, comparação das conclusões com os entendimentos atuais. Indo por partes, Heráclito nos transmite as reflexões que o conduziram ao “ente fundamental” e, afirma “tudo é um”. Ora..! este autor dedicou em seu primeiro trabalho, mais de um capítulo cujo tema central era; “somos um em todos”, e mais, a dialética proposta lá, sintetiza, no capítulo inaugural que “Somos o Universo” ou ainda, ”Ele nos é” e as razões dessas proposições foram, enfim, o próprio livro. Devemos, contudo, continuar, iremos então, a Parmênides:

Ele deduz, com bases estritamente racionais que “tudo é, o que, de fato é”, explica também que “algo não é, jamais, seu próprio oposto”. Conclui afinal, afirmando que; “o conhecimento é produto direto da razão através da lógica e da dedução”.

Bem.., no mesmo trabalho referido acima, o autor, em primeiro plano, propõe que o que se relaciona ao subjetivismo ou “plano ideal” independe dos parâmetros sensoriais e os limites passam a ser, exclusivamente, a lógica e o senso racional, ainda ressalvamos, enfaticamente, que a existência não é, exatamente, o que pensamos e até mesmo queiramos que seja e exemplificamos a validade física de existir o momento preciso em que um “martelo atirado, literalmente, atravessa uma parede de concreto sem toca-la” e, quem comprova essa possibilidade é a ciência, não porém, o autor, logo, a “parede” não é, exatamente, o que “é” e, identicamente, o “martelo” obedece ao mesmo critério, estes objetos são em si, um imenso vazio cientificamente comprovado, e o choque entre os materiais não é mais do que um fenômeno elétrico, as superfícies não se tocam “de verdade”, elas se repelem, já a uma distância astronômica, quando enfocadas as camadas orbitais eletrônicas moleculares, sem nem mesmo recorrer às implicações das forças internas aos átomos componentes dessas moléculas.

Por outro lado, a Teoria Quântica atual demonstrou o equilíbrio íntimo da matéria na oposição elétrica elementar, ou seja, um átomo somente é um elemento quando lhe órbita o elétron correspondente ao núcleo, “o próton”, assim, por exemplo, o hidrogênio somente existe porque um próton, com carga elétrica positiva é orbitado por um elétron, com carga elétrica equivalente negativa, logo, o hidrogênio é, exatamente, a “resposta dos opostos” intuída por Heráclito e, toda a matéria existente no Universo, nada é mais do que um ou mais átomos reunidos que se neutralizam mutuamente, variando suas massas com diferentes quantidades de prótons “equilibrados pelos seus opostos, os elétrons” e nêutrons que não lhes influi eletricamente, mas, apenas gravitacionalmente.

Por fim, “aparentemente” não carece razão à afirmação conclusiva de Parmênides, todavia, tudo que se refere ao “racionalismo” não pode ter amparo apenas superficial e, nesse ponto, singularmente, “nesse ponto”, poderíamos produzir um tratado com vários volumes de grande “volume” cada um, pois, em filosofia, segundo Sócrates “o inquiridor”; o que será superficial ou aprofundado? próximo ou prospectivo? E, consoante Platão, amante da “filosofia” positiva ou explicativa, demonstraremos o que é “superficial” e que existe o “aprofundamento” não, porém, a profundidade absoluta ou racional, isto é, precisamente, o “fundo” das coisas.

Nada, jamais, “fecha” questão, satisfaz, por hora, a necessidade do momento ou de futuro intelectivo atingível, contudo, a evolução nos apresenta, continuamente, “problemas” cujas soluções, exatamente “matemáticas” e estritamente “racionais”, convergem à “singularidade” e mesmo ao “irracionalismo” deixando de ser, propriamente, a “solução” definitiva, situações que já “atropelavam” o próprio Pitágoras, a exemplo do número Π (pi) e a (raiz quadrada de 2), que são, somente singelas relações matemáticas, mas que, absurdamente, por maior que seja o esforço racional exercido, não nos apresentam a “solução” final; a resposta portanto, é, exatamente, a “irracional”, logo, desprovida da pretensão exigida pelo racionalismo de Parmênides, essas entidades exemplificadas não são exatamente o que são e, se são, nós não o vemos.

Além do que, elas podem, algebricamente, serem “seus opostos” negativos ou inversos (– , – Π, , ), sendo que, no segundo caso (os inversos), é a própria função que eles representam que se opõe. Assim, destruímos até a última proposição “Parmenidiana”, isto é, nem tudo é “produto direto da razão lógica”, logo, o corretamente, “lógico” é saber que a “lógica” nem sempre nos conduz “racionalmente”, à conclusões absolutamente “lógicas”, mas, ainda assim, são “conclusões” satisfatórias até o limite do que conhecemos. E isso é válido, inclusive, no nosso mundo “aparentemente” real, por isso, demonstraremos abaixo:

A parede de concreto exemplificada acima é um bloco sólido e impenetrável, não há como negar! A “superfície” dela está lá, nos aproximamos dela e vemos um maciço “agregado” de material “absolutamente” fechado, a “superfície” desse agregado também está lá, vamos mais perto e vemos um impressionante número de “poros” nesse “agregado”, mas, as minúsculas cavernas têm paredes internas fechadas, isto é, “superfície”, se nos detalharmos minuciosamente veremos ainda que estas se comunicam e, fatalmente concluiremos, que uma fantástica quantidade delas darão acesso ao outro lado, a água, por exemplo, a atravessa, ainda que na forma de “suor”, porém, o “trançado” delas é uma “superfície”, diretamente, indevassável.

Não contentes, utilizaremos um microscópio e veremos uma assustadora esponja com cavernas enormes e nas suas paredes internas “maciças” vários cristais com brilhos diferentes apresentando alta “solidez”, como somos exigentes, ampliaremos a capacidade desse microscópio e iremos até as moléculas dessa estrutura e, aí já se estaria, conforme o que nos informa a visão, flutuando ou caindo de abismos monstruosos cujas encostas (superfícies) são assustadoramente agressivas e duras apresentando um efeito “estranho” semelhante a relâmpagos distantes atravessando os espaços “abissais”.

Agora, continuando a nossa aproximação por meios bem mais sofisticados, microscópios de tunelamento, por exemplo, estaremos em uma espécie de lugar “negro” sem limites e insondável e, ao nosso redor veremos “cometas” em todas as direções cuja passagem produz um risco luminescente, mas em nenhuma hipótese “saberemos” onde nos encontramos se dependermos apenas dos órgãos sensoriais, somente a lógica nos informa ser lá, o espaço intramolecular onde é possível ver os efeitos do movimento eletrônico (elétrons livres em movimento caótico), notaremos que, se, hipoteticamente, nos movêssemos em direção a algo sólido demoraríamos um tempo fenomenal unicamente para localizá-lo e, muito mais, para atingi-lo, mas, supondo tê-lo atingido e esse fosse um átomo de silício “teríamos certeza” de que ele é, finalmente, sólido, será?

De fato, veremos uma superfície com formato oval, porém, irregular, mas o que vemos, na realidade, é a última camada eletrônica no sub nível “p” com seis elétrons girando em torno do núcleo, a velocidade é tal que um único elétron estará, aos nossos olhos, literalmente, em todos os lugares ao mesmo tempo naquela órbita e isso para os nossos sentidos é uma “parede”, indo além, cairíamos em direção ao núcleo e, para isso, se considerarmos o tamanho do que pudesse penetrar aquela “pele” eletrônica levaria milhares de anos para chegar ao destino se a velocidade relativa fosse proporcional a um veículo a cem quilômetros por hora, pois, no átomo de hidrogênio, por exemplo, que é o menor existente (um próton e um elétron) aquela “pele” é cem mil vezes maior que o núcleo, assim, se o núcleo fosse a Terra (12.750 km de diâmetro aprox.), teríamos 12.750 X 100.000 = 1.275.000.000, ou seja, nós precisaríamos de um bilhão, duzentos e setenta e cinco milhões de “Terras” para preenchermos o espaço entre a “parede” externa e o núcleo “Terra”.

Ah! Mas chegando lá, encontraremos algo sólido, uma “superfície”? Sinto muito, mas a ciência provou que não, lá encontraremos um adensado de aparência mais ou menos “etérea”, se é que assim podemos expressar, não há dados que amparem essa conclusão, mas, uma coisa é certa, não apresenta solidez, tem cores e são separados por uma espécie de fluido, como fosse líquido, o “glúon”, podemos, sem errar, dizer cola para grudar “quarks” que são os elementos fundamentais da matéria e, apenas são “matéria” se considerados conjugados, isto é, agregados, pois isolados são energia pura, não se concebe ainda, uma forma de isolá-los sem perdê-los em forma de energia, existem em seis “Sabores” (números quânticos) diferentes e conjugam-se em três, formando os “bárions” (o próton, p.ex.., é um bárion, o mais leve deles).

Pedindo desculpas pelo cansativo “passeio” na parede de concreto, voltaremos à questão filosófica e espera-se ter provado que “superficial” é, simplesmente, tudo que se analisa, não existe profundidade em nada que concluímos, nós apenas confundimos o entendimento cognitivo entre a “observação crítica” e a “lógica racional imediata”, sendo que a “primeira” é resultado do que os sentidos nos permitem constatar fisicamente, somada ao “raciocínio próximo” que é aquele que o conhecimento acumulado nos disponibiliza como instrumento de “manipulação”, mais o “silogismo conclusivo” que tem as “dimensões” da capacidade intelectiva do observador e a “segunda” é o que “comparamos” com os dados do conhecimento acumulado, adicionado de uma estrutura mental nova colocada à prova para saber da sua resistência à “abrasão” racional, mais o “bom senso” de ser consciente de que qualquer conclusão não é, senão, a resposta do que está ao nosso alcance intelectual.

Três anotações são de grande relevância do que se expôs acima:

A primeira é que o “conhecimento acumulado” atribuído à “observação crítica” é “instrumento de manipulação” mental (ferramenta intelectual).

A segunda é que o “conhecimento acumulado” atribuído à “lógica racional imediata” é apenas o que dispomos de dados comparativos com a nova proposta.

A terceira, e mais importante, é que o “bom senso”, nesse particular, é a própria função racional fundamental, pois ele será a diferença entre “errar e acertar” a questão, e é fácil comprovar: – Se concluímos que tudo que pensamos sobre todas as coisas, é apenas “superficial” e a cognição do termo “racional” nos exige “profundidade”, o que notamos não existir, obviamente, não poderíamos ser “racionais”, logo, como existe uma consciência intuitiva de que somos racionais, e basta essa “consciência” para afiançar a racionalidade humana, o “bom senso” assume o “reinado”, pois se admitimos que qualquer conclusão não é mais do que um passo, a “profundidade” é dispensável, somente porque saberemos que o nosso limite não é, necessariamente, o “limite” universal.

Assim, ainda que Heráclito não seja a resposta definitiva, pois ninguém o é, ele tem, sem dúvidas, melhor direção à verdade, enquanto que Parmênides amparando seu racionalismo no que é estritamente real e, de fato, sabemos que não “sabemos” o que é “real” apenas deduzimos o que os nossos sentidos e capacidade intelectual alcançam, se constata que este mais se afasta da verdade do que a vislumbra, porque já vimos que “nem tudo que é, de fato, é”, é certo, por outro lado, que “algo pode e, quase sempre é seu oposto”, a Teoria Quântica garante isso, e, por fim, se desconhecemos o que é “real” do ponto de vista “sensorial”, o “racionalismo” que despreza a intuição, a imaginação, a sensibilidade, a vontade e outras virtudes que lhe tornam íntegro de si, não é “racional” por lhe faltar “razões”, simplesmente porque não considera todos os ângulos das questões, que mesmo estes “ângulos” sendo absurdos, o que não são, seriam parâmetros de conclusão por exclusão.

Devemos considerar, entre outros, que, historicamente, todo o progresso humano tem seu princípio na imaginação em primeiro plano, na intuição do realizável em segundo plano, na vontade de materializá-lo em terceiro, ter sensibilidade bastante para reproduzir o melhor possível o ideal em quarto e assim, sucessivamente para, ironicamente, em último plano, disponibilizá-lo no plano “aparentemente” real. E, gravemente pior, aparentemente “real” do nosso ponto de vista, pois, se somos seres que habitamos o corpo, estamos “dentro do espelho” e real é o que “somos” mas nunca, o onde “estamos”, logo, vemos que a imagem “ri” do objeto! Também, “historicamente” sabemos que todos os pensadores que desenvolveram temas racional-materialistas tiveram seus intentos redundando em fracassos coletivos e frustrações pessoais, pois, irremediavelmente, o Universo tem “dois lados”, e a dedução intuitiva de Heráclito, pode ser rudimentar na forma, entretanto, irrepreensível na essência.

Ao observador minucioso será transparente, unicamente um fato; a emoção, paixão, misticismo e outros sentimentos passionais próprios da alma humana, misturavam-se com a frieza calculista do racionalismo puro que, de certa forma, não é mais do que uma manifestação também passional.

Isso notamos já em Zenão, discípulo de Parmênides, que extremando as proposições do mestre afirma que o vazio não existe e o movimento não é mais que a ilusão causada pela passagem do tempo em relação a um objeto parado em lugares sucessivamente diferentes.

Essas conclusões são, cientificamente, comprovações teóricas e analíticas hoje, a do vazio, o relativismo de Einstein demonstra, matematicamente, que o espaço existe na razão direta da existência universal, logo, confirma que lugar é “permissão de preenchimento” o que, nem de longe, significa “vazio” e, o mesmo “relativismo”, afirma que o tempo é intrínseco ao espaço e por esse aspecto, pode ser assentido como um filme “quadro a quadro” que em determinadas situações um viajante hipotético em velocidade equivalente a do objeto em questão o tem, absolutamente, parado, pois o movimento é relativo, simplesmente, à referência.

Zenão só não notou duas coisas, a primeira, é que sua lógica partiu de um argumento puramente intuitivo, a ponto de ver o que aos outros, era absurdamente, “invisível”, o setor racional do seu entendimento, apenas ordenou sua acurada percepção natural, simplesmente, porque o raciocínio lógico não processa algo partindo do “vazio” que o próprio “Zenão” negou existência. A segunda, e mais intrigante, foi que ao demonstrar sua racionalidade “fria” enaltecendo as proposições de seu mestre Parmênides o destruiu completamente, pois provou, pela “lógica realística”, que, “o que é, não é”, pois o objeto se movimenta, no entanto, está parado; que uma coisa pode ser o seu contrário, uma vez que “vazio” é lugar e isso é algo existente e não vazio e, por fim, que sua “lógica realística e fria” partiu de uma sutil intuição que pouquíssimos “místicos” conseguem desenvolver.

Agora podemos continuar em direção aos tempos “socráticos”, encontraremos ainda, pelo caminho Demócrito, Anaxágoras, Empédocles, onde esse último ancorava seu raciocínio em quatro elementos fundamentais, o fogo, a água, o ar e a terra, pois deduzia, serem estes “indestrutíveis” e, portanto, o princípio das coisas. O do meio dizia que “tudo está em tudo” e a força da Inteligência (indução textual indireta a Deus) ia, no tempo, organizando o caos. O primeiro, discípulo de Leucipo, já contemporâneo a Sócrates (470 – 370 a.C.), participava do pensamento do mestre e pregava a primeira concepção humana registrada que dizia respeito ao “Átomo”, nunca como o conhecemos hoje, porém, com uma descrição intuitiva, assustadoramente, próxima das comprovações atuais. Ele afirmava que se tratava de uma partícula indivisível de matéria, deduzida da partição, isto é, da metade, da metade, da metade.., até o “sólido filosofal”, imutável, em número infinito e, sempre idêntico a si próprio em todas as coisas existentes, estavam em movimento constante num “vazio” que se opunha a Parmênides e Zenão e que nesse movimento se chocavam dando origem a todos os materiais.

É assustador saber que alguém rasgou com as próprias “unhas” a rocha impenetrável da cega ignorância em que era imersa a humanidade do período. Ao que tudo indica, os arqueólogos “não foram eficientes”, pois onde encontraram os manuscritos de Demócrito é “certo” que se “trabalhassem” direito, teriam encontrado as plantas do primeiro “Ciclotron” produzido pelo homem.

É nos detalhes desse humor que encontramos o único milagre existente neste mundo, o Espírito humano é a própria resposta à todas as suas “próprias” questões, se admitida a transcendência do Ser se notará que o “vazio”, o “tempo”, a “matéria”, os “elementos” e, enfim, o “Universo”, é o que somos, que entregamos a nós mesmos o que conhecemos e recebemos de nós mesmos o que buscamos, em todos os tempos de todos os lugares e essa, é a “lógica fria, racional e calculista” de Jesus (filósofo) “Vós sois Deuses”.

Já na idade socrática, deveríamos comentar, didaticamente, sobre os ferrenhos inimigos da sua lingüística dialética, os “sofistas”, mas, honestamente, ser pretensioso de lecionar aos concidadãos que falam, escrevem e lêem no idioma original deste ensaio, o que significa “artimanha, desonestidade, infidelidade, promiscuidade e tantas outras virtudes políticas” seria cômico e medíocre, citar nomes daquela época, estar-se-ia diante de redundância temporal e gramatical, visto serem estes, aqueles aprimorados e em nova embalagem menos romântica. Logo...

Sócrates, o “dono” da época, entregara sua vida a “Polis” Atenas. Quando jovem como herói; quando maduro, como filósofo; quando velho, como Honesto. Exemplo material de Cidadania, “Cidadão Universal”, não “santo”, não “bom”, não “milagroso”, mas, principalmente, não “hipócrita”, homem comum de grande sabedoria vivencial, não foi graduado nas eclesiásticas universidades que qualificam os que se “fizeram-nas” presentes ou desqualificam os que se “ausentaram-nas”, seu “Pergaminho” de graduação era ideal e pendurado no Santuário do seu Ser, o título que lhe coube por digno mérito foi o de “Sapiente”, doutorou-se em fraternidade com louvor, e fez especialização em evoluir a Humanidade. É lembrado com respeito e admiração, nunca, porém, com idolatria, é modelo de cultura e personalidade, mas não de beatificação. Sempre poderemos dizer, foi um Grande Homem queria ser igual, contudo, jamais “rezaremos” “à” ele pedindo milagre, pois ensinou que “milagre” é saber, e este se conquista, não se pede.

O alvo de Sócrates foi somente o ser humano sob o enfoque da ética, moral e dignidade. Suas investidas filosóficas portavam característica peculiar e restritiva à sua personalidade, aspecto, aliás, que o imortalizou nos escritos de Platão, sua arte consistia em contraditar as questões que lhes apresentavam de modo inquiridor, ou seja, a resposta era, invariavelmente, outra questão inversa e de caráter requisitório, em verdade, Sócrates, como um cirurgião, extraía do próprio interessado a solução almejada, originando no “lógos” (palavra), uma espécie de teorema onde a demonstração era o próprio problema apresentado de forma invertida, como se faz com a conhecida “prova real” feita em operações aritméticas simples.

Tal peculiaridade tem a verdadeira função de por à prova o conhecimento de quem dialoga e, como vantagem, transfere informações ainda não disponíveis ao interlocutor que se permite manipular as idéias antecipando-se a propositura da próxima questão, isso “derrubava”, sistematicamente, todos os frágeis sofistas que atravessavam o seu caminho tornando-o mais forte de duas formas, uma delas, é que isso o enaltecia perante a população e, em segundo plano, forjava suas convicções pessoais, amoldando um caráter sereno e plenamente confiante conduzindo-o a saber que qualquer preço não lhe seria caro pelo que recebia em desenvoltura espiritual, por isso a vida era-lhe o resgate pela vantagem particular e, simultaneamente, lição aos que participavam do ato e aos que viriam dele a saber, só não imaginava que seu melhor discípulo o imortalizaria por dois mil e quinhentos anos e, com certeza, por muito mais ainda.

Ainda que pareça injusto, bem pouco se poderá comentar de Platão, inicialmente, porque a grandeza do seu Espírito transferiu à Sócrates suas próprias virtudes e, ao contrário de “esvaziar” sua forte personalidade, reforçou-a, entretanto, literariamente o que se traz ao papel sobre Sócrates, não é mais do que a impregnação da própria Alma de Platão e, conclusivamente, porque as idéias por ele defendidas eram as do seu mestre com evoluções significativas. Sabe-se que desgostoso e frustrado com o processo político que sempre acreditou, vendo-o corrompido e apodrecendo como qualquer processo imperialista de menor expressão que a sofisticada estrutura helênica de administração, a mesma que por motivos mórbidos permitiu a extirpação torpe de um Espírito de extrema raridade do seio da humanidade, acabou retirando-se da urbanidade da Polis para uma recém adquirida propriedade e lá fundou a “Academia”, e lá dedicou-se aos seus discípulos vindos de muitas regiões da península, do Egeu e da Grécia asiática. Esse foi o período em que recebeu como discípulo Aristóteles, homem que viria influir até nas visões pragmáticas de Hegel e Marx, propagadores do idealismo absoluto.

As preocupações fundamentais de Platão estavam voltadas ao entendimento da realidade e das aparências, da pluralidade ou unicidade do ser. Temática que propõe que vivemos a sombra da realidade ideal, sendo aquela o verdadeiro regente e esta o simples agente material, a primeira é o impulso, a segunda a ação. Ia além, afirmava a ocorrência de um único em todos, exatamente a pluralidade do ser, isto é, de uma igualdade absoluta resulta a própria existência.

Proposição, que de forma adaptada às nossas atuais convicções, é veementemente defendida pelo autor desta na sua primeira obra, sendo figurado ao Caro Leitor naquela que “somos a imagem no espelho”, insistentemente se afirmou que “somos um” e que “Ele nos é” e o próprio título do último capítulo é “O ente fundamental”. Assim, se a figura de Platão, de alguma forma, afiançou, ainda que em termos cabíveis ao seu período, a modesta insinuação deste autor, é mais que motivo para sentir-se lisonjeado por saber que um vulto de tal grandeza histórica já percorreu esse caminho.

Nascido em 384 a.C. em Estargira, na Macedônia, Aristóteles veio à Atenas por volta de 367 a.C., neófito de Platão, deste foi discípulo por vinte anos, foi preceptor do filho de Felipe da Macedônia, Alexandre o grande. Excetuada a Constituição de Atenas, todas as inúmeras obras dele foram perdidas no tempo e o que se sabe delas foi extraído de anotações suas ou de seus discípulos para serem usadas em suas palestras ou no exercício de seu ministério no “Liceu”, seu local de trabalho educativo (sua escola).

Dotado de um racionalismo agudo invulgar associado a uma sensibilidade requintada, produzia seus preceitos a partir da intuição, literalmente, telescópica que lhe era própria e de uma lógica, irrepreensivelmente, racional resultando sempre em proposições ponderadas que amoldavam, primordialmente, à ciência, à ética e ao idealismo filosófico, respectivamente. A observação dos fatos era a sua pregação fundamental, ordenados estes, o silogismo assumia a predominância sistêmica sem desvios. Logo, este projetava por especulação e exercia com logicismo, assim, se o que lhe intuía oferecesse comprovação racional seria digno de ser validado. Sua pendência natural era a filosofia, a física, o Espírito, a metafísica, a zoologia, a psicologia, a economia política, aliás, pensamento aristotélico este, que inspirou, primordialmente, as obras de Hegel e Marx e, finalmente, sem causar surpresas, devido a referida sensibilidade apurada deste pensador, sua alma poética, admirada pela eloqüência coloquial.

Estamos diante de um homem que pela primeira vez na História, sintetizou o conhecimento humano que lhe antecedeu, na expectativa de usá-lo como cabedal empírico, aonde sua obra viria fazer sentido por continuidade de um esforço já praticado por pensadores que o antecederam. Não apenas usufruiu o “silogismo” como citado acima, demonstrou sua validade e forma de aplicá-lo, detalhou os aspectos das premissas maior e menor na resolução de questionamentos racionais por meios lógicos, pois desse modo, no que fosse possível independer do próprio empirismo, a essência da conclusão, por si só, viria satisfazer o quesito. Ensinou, sem dispor de métodos matemáticos, que quando se dispõe de uma evidência inquestionável ela pode ser o ponto de apoio para conclusões posteriores, uma vez que, mesmo que inexplicável esta se realiza ou é constatável pela razão e pelos sentidos, é inegável que o resultado seja a solução, logo, ele definiu o que assentimos atualmente como axioma “os axiomas de Aristóteles”.

Quando enfoca a filosofia da natureza, nota-se o cuidado de separar o que especula com ênfase que evidencia sua elevada intuição, separa as formas de constatação direta das observações possíveis, levando a raciocínios complexos que dirigem às potencialidades do ser, relaciona seus predicados presumíveis e os compara com os efeitos naturais isolando o substancial do que é fortuito e casual, amparando a dedução conclusiva de que a ação é a conseqüência da existência do ser, o que termina por justificar o dualismo existencial, o ser e o organismo, o impulso e o resultado, a vontade e a ação, o sentimento e a razão.

Nosso primeiro trabalho demonstrou de forma enfática o poder da influência do “aristotelismo”, ao finalizar por meio de um aparte histórico “O SANTO DEMÔNIO E A GUERREIRA ANGELICAL” (guerra dos cem anos), como se movem os eventos em função da filosofia na vida prática.

O pensamento aristotélico foi, é e será sempre, de fato, a âncora de lastro para discussões e discursos favoráveis, dissidentes ou contrários de origem, não se trata de haver entendimento que o descarta por considerá-lo desprovido da razão, muita ingenuidade seria tal pretensão, mormente se observado o fato de as discordâncias, bem poucas, aliás, partirem de eminências culturais expressivas, ocorre, contudo, que uma tese que se desdobra em tão vastos campos esbarra, fatalmente, em pensadores que se aprofundam em arrazoados de maior amplitude, especificamente numa área determinada, e passam a notar desvios de convergência nas opiniões, geralmente, especulativas, no que refere ao primeiro, pois devemos assimilar, que por mais que Aristóteles fosse uma figura cujos predicados racionais e conceptivos eram extraordinários, não dispunha mais do que sua própria razão, intuição e discernimento para serem-lhe balsa de travessia no oceano do conhecimento, é tão verdade, que ele foi o precursor na História do aprendizado humano a compilar a bagagem dos que o antecederam construindo, assim, os primeiros “remos” para a sua “balsa” e, a partir disso ela deixou de estar ao sabor dos ventos da informação generalizada.

Podemos, com total segurança, asseverar que seus piores adversários intelectuais em todos os tempos o admiravam, o invejavam, o contrariavam e, mais que tudo, o “usavam”, por inúmeros motivos, nenhum, porém, mórbido ou torpe, pois, sempre foi sabido, que compará-lo ao que se pretendia expor ou defender transformava, sintomaticamente, o argumentista em “Colega” antagônico, divergente ou concordante do “Iluminado” em foco e, sentir-se relativo a uma “real identidade” do conhecimento humano, é aliciador até para os mais nobres “Egos”.

Originários, da Alemanha, Inglaterra, França e tantas outras nações, encontraremos uma fenomenal lista de Pensadores nas condições descritas acima, apoiando, criticando, comparando, avaliando, mas enfim, tendo-o sempre como “bengala”, a exemplo de Charles Fourier, Denis Diderot (materialista e ateu) e Auguste Comte (França), Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Immanuel Kant (Alemanha), Francis Bacon, George Berkeley, David Hume e Thomas Hobbes (Inglaterra), Hugo Grotius (Holanda). Independentemente da origem, devemos entender a filosofia como um ente universal do pensamento, Ela opera no espaço e no tempo, nasce em qualquer lugar com a vantagem de não ser “erva daninha”, espalha-se como tal, porém, o seu verde é o da Liberdade do espírito, com este, em qualquer circunstância ou condição, do escravo ao imperador, do aristocrata ao proletário, do ignorante ao sábio, liberta até mesmo, ainda que com dificuldade, o medíocre que por não fazer contato com o Saber, despreza-o.

É curioso o fato de que, marcadamente, Aristóteles notabilizou-se pela mediação, no sentido filosófico, primava pelo conhecimento racional e pela lógica, era também, ponderado por intuição; no sentido prático não tinha postura radical em relação ao que propunha, era da sua natureza comparecer com a tese desenvolvida e permiti-la confrontar-se com a realidade, sempre amoldou de forma coerente e compatível com a época e com o povo que se relacionava, tanto que foi o primeiro homem a considerar os pensamentos dos seus antecessores, a Platão, homem já de notável moderação aprimora seu discípulo, a enigmática tese da dualidade e, ao contrário de rechaçá-la, este lhe amplia a concepção dando-lhe os contornos que ainda hoje são admitidos, até porque, nos é inacessível outra proposta que altere essa coerência por óbvia singularidade; como negar que, “o sensível é integrado ao inteligível”? Mas, enfim, a estranheza aparente que causa uma personalidade como a de Aristóteles é que sua temática global deu “centelha” para inúmeros “incêndios” apaixonados.

Sem muito esforço, se nota isso nas obras do, já referendado Marx, é sensível a influência aristotélica no desenvolvimento do pensamento marxista, acentuadamente, em “Para a Crítica da Economia Política” e, novamente em “O Capital”, lá, inclusive se vê, a “proposição” da “sandália” de Aristóteles para o “fim” de Marx, quando da valoração dos objetos para propósitos de comercialização, sendo que sua finalidade destina-se ao uso, propriamente dito, ou venda, sendo outra sua destinação e válida utilidade, logo, para alguém este seria calçado, à outrém, alimento, vestimenta, ou qualquer outro fim que não, necessariamente, a proteção dos pés. Nem detalhamentos seriam precisos, pois era evidente, apesar do aparente antagonismo a Hegel, a profunda admiração que este merecia de Marx, seu inspirador, mesmo que às avessas, próximo em todos os sentidos do seu modelo de ideal, e Hegel, desde a juventude, nunca ocultou esse fato, mesmo pouco ou nada explicitando e, em verdade, parecendo demonstrar uma espécie de dualismo dialético, onde um se sobrepõe a outro, entretanto, os seus modelos de “Deus”, “religião”, “metodologia aplicada ao objeto”, exalam o odor do aristotelismo.

Nota-se ainda que ambos tratam do epicurismo (estoicismo) e do atomismo de Demócrito, não há como separar dos dois a preocupação com o “Espírito Humano” em mais de um sentido, ainda que seja óbvia e acentuada a direção “materialista” em Marx, porém, esta é totalmente dirigida às relações sociais, particularmente, no que refere ao capital-trabalho, manifesta sua firme convicção de que, consoante a História demonstra, a alavanca do desenvolvimento é o movimento revolucionário, portanto, não há forma diferente de iniciar reformas.

O trabalho crítico de Marx vem coberto de razão, pois a selvageria capitalista é, sem dúvidas, desumana, mas, na prática, uma revolução nos moldes que presenciamos, apenas troca de posições os “selvagens” nada mais. Uma vantagem não se nega, “os selvagens” ganham mais autonomia e correm menos riscos, isso nós testemunhamos.

Comentar filósofos, não nos torna um, portanto, não se apresenta aqui a solução que informamos, lá não existir, contudo, o óbvio apenas sobressai; assim é certo porém, que a via da resposta, não é a violência.

Infelizmente o ser humano está com a visão débil e se deixa sensibilizar somente pela satisfação imediata, não permite que a razão seja amparada em uma perspectiva de longo alcance, de princípio porque preconceituosamente despreza a existência do espírito, em segundo plano, crê apenas no sentido do que lhe “toca”.

Essa discrepância ingênua e passageira, embora não seja admitida apenas por “cegueira”, haverá de passar e finalmente, lamentando o tempo desperdiçado com “brinquedos” este se voltará a si próprio conhecendo-se e dispondo seus valores em escalas diferentes das que hoje prevalecem.

Os bens materiais estarão nessa escala obviamente, já que a matéria é necessária evolutivamente, mas em doses ponderadas e racionais.

Por outro lado, no mundo atual encontramos fanáticos religiosos, políticos e até os que matam e morrem por times de futebol, o homem perdeu completamente a verdadeira perspectiva, nós vemos democratas que impõem seus pensamentos a ferro e fogo, comunistas que valorizam a tecnologia em pé de igualdade com esterco molhado, cantores de “Rock” que se suicidam no palco para dar “vida” ao seu show, sacerdotes que pregam o ódio aos incrédulos ou crédulos de outras crenças. As medidas foram absurdamente perdidas.

É certo que o autor que voz fala, é feroz defensor do desprendimento material, mas, daí, imaginar que o conhecimento, a arte, a tecnologia e a própria expectativa humana devam ser, simplesmente, achatadas em nome do bem comum ou, o que é mais “comum”, da vaidade política ou mesmo científica e religiosa, extrapola todas as ideologias. Isso equivale ao que nós vemos com freqüência e nos abismamos; alguém assim age: – “... eu mato em nome de Deus...” ou “... extermine aquele povo, pois são bárbaros...”, ainda, “... tire tudo do povo em nome da igualdade, pois pobres são todos iguais...”

Essas aberrações sociais fizeram apagar da cultura humana o entendimento e aceitação de um processo evolutivo equilibrado, conhecimento que mesmo que incompleto, os pensadores aqui citados, buscavam. Não se sabe por que, porém, a humanidade imagina que já chegou aonde pretendia, um mundo em que anarquia e liberdade são a mesma coisa.

Uma vaga idéia sugere que devamos iniciar uma cruel batalha conosco mesmo e, do que sobrar inteiro, que, provavelmente, será melhor, segundo a teoria revolucionária de Marx, poderemos transformar em instrumento de progresso e bem comum. Assim, faríamos; – “em nome de Deus mato a minha ganância, meu egoísmo, minha vaidade...” ou “... ajude aquele povo, seja cristão...”. Racionalmente, não se pretende salvar o mundo com o que acabamos de afirmar, mas, que se trata de caminho melhor direcionado que a revolução marxista, não podemos duvidar.

É de se lembrar, que em si mesma, a filosofia é aprendizagem por decorrência do seu próprio princípio, pois não será possível amar o conhecimento sem “conhecê-lo”, a conseqüência natural disso nos leva a algumas considerações, vejamos; a História nos demonstra (não ensina) que, invariavelmente, após os movimentos revolucionários os povos de um modo geral experimentam o progresso, estatisticamente, essa observação levou muitos sábios a conclusões derivadas da lei probabilística, matematicamente, eles não erraram, nem mesmo seria viável, aceitar erros tão evidentes aos quais se refere o presente texto, contudo, a mesma “História” conta que os homens “tomavam” suas mulheres à “propriedade” de alguém por meio da força, matavam e assumiam os pertences alheios e entre eles as mulheres, ela conta ainda, que as mulheres sempre foram objeto de troca, exatamente, nas deduções aristotélicas tomadas em parâmetros comparativos em “O Capital”, o exemplo foi a sandália, entretanto, o produto, por infindáveis séculos, incluía a mulher na “prática” da teoria.

Assim, não seria lógico concluir, que a bela e digna esposa, confessamente amada e respeitada, pelo filósofo obedecesse aos mesmos critérios estatísticos que a História “ensinou” (apenas contou).

De antemão, nos adiantamos, por que o falso pudor..? a conclusão a que se chegou é “lógica”, puramente “racional” e, segundo os entendimentos filosóficos do próprio Marx, é desperdício intelectual “dar voltas quando se deve ir direto ao ponto”, logo, ao que consta, a filosofia errou..! ou será que as soluções absolutamente racionalistas, não são, “matematicamente”, a solução definitiva..?

Existem fatores aonde o racionalismo “cartesiano1”, para o qual a realidade resume-se a equações matemáticas, é fim e não meio e, com certeza, não vale a máxima encontrada nas obras do emérito pensador prussiano, “... os fins justificam os meios...”. A História, de fato, nos ensina que o que já ocorreu deve ser pensado, analisado e aprimorado. Agora.., entre “aprimorar” a arte revolucionária e abolir completamente esse conceito buscando meios “sensivelmente” mais racionais, não seria mais lógico e “racional”?
Não é hoje a mulher, inequivocamente, a força do mundo? O elemento humano que melhor se adapta a inúmeras tarefas simultâneas? Gera a criança, administra o lar, produz e administra na sociedade de consumo além do âmbito doméstico? Esta representa com tal expressão seu papel social que a própria sociedade entendeu muito tarde o quanto perdeu por muitos milênios e, sequer concebe sua estabilidade estrutural atual sem a participação feminina efetiva, todavia, nem por isso saímos tomando-a como um objeto. Conseqüentemente, é especialmente óbvio notar, que a filosofia também obedece a “lei da relatividade”, nada pode nem deve ser absoluto, e essa “Lei” cumpre, “matematicamente”, o racionalismo de Descartes.

A verdade, é que vemos por ângulos diversos, que os sofistas, apesar de locupletarem-se de conhecimentos válidos para fins inescrupulosos, ensinaram a humanidade que deve ser usada uma “balança” para que não sejam tomadas posições irrefletidas, pois, muitas vezes, o benefício almejado se produz por meio de malefícios irreparáveis e é, “matematicamente” verdadeiro, que a matemática, não é sempre solução.

Antes que pareça incoerência e contradição, devemos avaliar a defesa de Maquiavel e o comentário condenatório a Marx. Isso, porém, apenas ocorre se o entendimento do que vem escrito for superficial, a diferença é óbvia, mas, com algumas sutilezas.

O primeiro limitou-se a ordenar a História em dados estatísticos, o segundo, no entanto, usou a “História”, exatamente como fizeram os que leram Maquiavel, com a fundamental diferença que o último foi até mais criativo que o primeiro, foi mesmo brilhante, pois construiu os argumentos que o justificariam por antecipação, enquanto que o primeiro somente ansiava os favores do príncipe quando em condições desfavoráveis, além do que, comprovadamente, não tinha noções do alcance da sua obra e, antes de tudo, era confesso amante da república e da liberdade, ao contrário, o segundo via no poder do Estado o resumo de todas as misérias, pois era consciente que seria impossível obter a pretendida comunhão igualitária pela vontade individual sem amparo da força.

Não se contesta, nem se poderia, o intento de mudar para melhor a humanidade no pensamento de Marx, notadamente mais do que em Maquiavel que restringiu-se à sua Florença ainda que fosse visionário da Itália unida, o ponto em questão, são os métodos que, enfim, brutalizaram volumetricamente mais pessoas no segundo caso do que no primeiro, entretanto, é inegável que estamos diante de dois gênios criativos de rara peculiaridade, cada qual à sua época. Portanto, se pretendemos nos autoprolatar sociedade evoluída, o preço é, exatamente, a Paz sob qualquer circunstância.

É obrigação do homem evoluído, ter sempre, sem exceções, soluções pacifistas, dispor, até com sobras, de alternativas sensatas e nunca conflitantes, pois, ao contrário da teoria da autocontemplação do todo ou absoluto, tese que expõe a existência do “Motor imóvel”, é de se pensar na possibilidade de existência do “Dinamismo Relativo” em si, isto é, oposto à imobilidade do princípio, não absoluto pela natureza própria de ser a composição de si em si, “criação eterna” de “si em si”, cuja perfeição é ser eternamente acrescido pelos seus infinitos trechos1, “trechos” que somos nós, portanto, é de se esperar o consenso por conseqüência lógica, isso é racional, não condição compulsória!
O igualitarismo deve ocorrer por fraternidade liberal, não por pilhagem e posterior divisão impositiva cabendo a cada um o que não lhe serve de verdade, porém, a divisão por acomodação natural e, sem medo do termo, o “comunismo” em essência, aquele que assimila a divisão, mas.., não a impõe, aquele que ninguém determina e sim.., pratica na realidade. Não se fala de uma sociedade utópica, porém, plenamente realizável, é certo que seja um movimento sem mudanças radicais revolucionárias, pois esta, seria sua antítese, se deve esperar, isso sim.., uma justaposição progressiva e natural do crescimento do Espírito Humano, também será impossível resultado final imediato mas.., contanto que os efeitos sejam sentidos desde o início, tornar-se-á cada vez mais fácil a finalização do processo.

Em verdade, a conseqüência almejada é a própria comprovação do “Dinamismo Relativo”, pois o tempo e a evolução do “Espírito Comum” resultam na conjugação do “Princípio”, e o eterno se auto-explica pela observação da existência de um ciclo, onde, os “fins” e o “Princípio” são, enfim “um só”. E, de per se, tal entendimento nos conduz ao “Uno” sugerido por Platino2 numa acepção mais densa e coerente com a razão, não explica ainda, o que seria “O Primeiro” mas.., o “ciclo”, por enquanto, é satisfatório e, afinal, ninguém jamais conseguiu tal proeza. Entretanto, pelo fato de não sermos capazes de “enxergar” o que nos escapa, não nos autoriza, segundo preceitua o “materialismo” relegar a “realidade ideal” ao plano inexistencial, o que, consoante a mais pura concepção filosófica, inclusive a materialista, é inconcebível, ou seja, a única coisa que não existe, de fato, é, exatamente, a “inexistência” ou o “vazio absoluto”.
É tangível a inspiração do Espírito Humano na convicção intensa impregnada ao seu “Eu” maior, é também, não menos remoto, esse conhecimento que se nos mostra, mas não o vemos, já em Heráclito nota-se a preocupação em sintetizar tal “afloramento” sempre sem assentimento lógico à nossa razão, este ensinava: – “...As coisas se resumem a um, e este manifesta-se no múltiplo, que resulta no único...”. Ele referia-se, sem dúvidas, ao “Ser que somos”.

Ao contrário do que os observadores menos atentos deduzem, Heráclito não se limitou aos efeitos puramente dialéticos que, invariavelmente, conduzem aos opostos por relação direta, esta é uma visão vaga e muito simplista quando dirigida a uma mente privilegiada à qual nos referimos, a forma de “ver” daquele Espírito era complexa e o seu raciocínio era sempre expandido “extradimensionalmente”, os “opostos” eram sim, o quente e o frio, bom e o ruim, mas.., o dualismo lhe foi atribuído por quem o interpretara, ele se exprimia, obliquamente, ao “multipluralismo”, pois seu pensamento era abrangente e não circunscrito, assim, até mesmo o “dualismo” fica evidente; “O Uno é o Múltiplo”.

Ainda que a humanidade sinta-se oprimida e anseia por soluções imediatas, elas não existem e, qualquer tentativa nesse sentido, unicamente induz mais opressão, é inconcebível uma solução revolucionária, pois, o próprio termo “revolução”, é antagônico ao entendimento de “solução”.

A lógica racional filosófica, não o racionalismo absoluto, entretanto, o abrangente, aquele que vê por todos os ângulos existentes, até mesmo, os que a primeira vista, aparentam ser absurdos é o mais coerente à analisar todas as questões em qualquer profundidade e, é inteligível, que o fator humano não possibilita resposta única e imediata para a problemática que apresenta, o remédio, mesmo que amargo, deverá ser tomado de gole em gole e, segundo o sábio ensinamento de Hipócrates, a doença é de todos, a cura, no entanto, é de cada um, logo, a sociedade (todos) será sadia se “curarmos” cada um (indivíduo a indivíduo) e isso é cansativo e demorado mas, definitivamente, é a solução.

Salve o mundo, comece por alguém! Se o seu tempo de vida não lhe permitir concluir tal tarefa, os que forem salvos continuarão e assim, sucessivamente. Mas, pelo amor ao criador, não seja “chato”, salve sempre quem erguer as mãos, pois quem assim não fizer, não procura salvação, deixe-o em paz. Busque a civilidade não a canonização, que além de inócua, esta última, é puramente um sofisma. Tenha certeza, um “Cidadão Universal” é muito mais que um mero santo.

Fatalmente, quando adentramos o período aristotélico, na verdade, em pleno vigor ainda hoje, era sabido que a diversificação dos eventos ligados aos seus entendimentos viriam a causar o distanciamento do contexto objeto do presente capítulo, pois, como seria possível, apenas dizer; – Aristóteles foi um filósofo que fez “tal coisa”? se é patente, que mais do que todos os que sejam viáveis de lembrança, a “tal coisa” que Ele fez, interferiu com o mundo, é óbvio que outros fizeram equivalente, mas.., são tão poucos, que exigirão o mesmo conteúdo textual deste trabalho, aliás, que finalidade teria este, se desprezasse a linha mestra do pensamento humano? – Sabemos! Se “ouve” ao longe; “... – e Jesus, não foi além de Aristóteles?” Não! Se desprezarmos o segundo!

A verdade, é que muitos fatores envolveram o “cristianismo”. “Saulo de Tarso” (Paulo) o apóstolo do “pensamento” de Jesus, pois o seguiu depois do desaparecimento deste entre nós, foi fator preponderante se considerados aspectos práticos e diretos; os seus seguidores originais fascinados pelo “reino” oferecido por aquele, ao morrerem cantando na arena, veio ser um segundo fator fundamental, se avaliadas as compensações ansiadas; os apóstolos diretos dele, isto é, os que o acompanharam em vida entre nós, seriam um terceiro fator, pelo ângulo do “marketing”; a visão controvertida dos Hebreus1 sobre a descendência direta de Jesus de “David ” (entendida como povo de David) criou elementos essenciais a que o “Carpinteiro”, na sua fantástica sabedoria ou, intuição que assumia a condição de fenômeno, agisse em conformidade com as profecias conhecidas e guardadas a “sete chaves” pelos sacerdotes dos mais altos escalões hierárquicos dos templos, essa conduta traduziu, durante e após sua passagem por nós, uma imagem messiânica, sendo esse o quarto fator relevante se, pelo ponto de vista místico.

Existem muitos outros fatores, mas, os acentuadamente significativos, são os mencionados, à exceção do mais expressivo que, intencionalmente, deixou-se para as próximas pautas:

Aristóteles como tantos outros, a exemplo de Heráclito, Sócrates e Platão, praticavam o “cristianismo” quando este, sequer era conhecido, contudo, se isso validasse o argumento, Jesus seria “mais um” e isso, com certeza, ele não foi, de fato, Ele, ainda hoje, é “Um”, o que nos trouxe, com tanta força, sua mensagem, foram os intelectuais, eruditos, filósofos, enfim, os portadores da bagagem da sapiência, estivessem estes, contra ou a favor do pensamento “cristão”.

É óbvio que cada homem capaz induz inúmeros indivíduos capazes ou não, e, quanto maior a capacitação, maior a indução, logo, é conclusivo que o sábio detém o aval da distribuição do conhecimento e, quem, melhor que Aristóteles, afiançaria ensinamentos que ainda estariam por vir? Inquestionavelmente, o cristianismo já partiu amparado pela lógica transcendental aristotélica, o seu abono só foi, formalmente, “assinado” por Aristóteles com o advento da “Escolástica” que no movimento renascentista “reencarnou” o pensamento “greco-filosófico” no mundo ocidental.

Ocorre, no entanto, uma discrepância aparente que confunde quem observa, apenas superficialmente, os fatos históricos, a questão é; à época que a mentalidade escolástica apenas se insinuava no seio do ocidente, conta uma versão, que os “cristãos” abalaram-se com os preceitos filosóficos, principalmente, pela origem, pois alegavam estranheza aos conhecimentos gregos provirem dos árabes.

Estamos, exatamente aí, diante do sofisma, pois foi o “clero”, que se autoproclamava representante dos cristãos, quem se abalou com o advento dos preceitos filosóficos imiscuírem-se aos dogmas católicos, Orígenes1, já de início, desligara-se da igreja ocidental motivado pela dissonância do pensamento fundamentado que a filosofia adotava e os cristãos da época assimilavam-no, em relação às imposições dogmáticas clericais, “virgem santa”, “Jesus Deus”, “castigo eterno”, “anatematização da transcendência do espírito”, vulgares pregações dirigidas aos incautos que geravam vantagens infinitas ao “canônico corpo eclesiástico”, esse foi o “abalo” e, não outro.

O pensamento “Jesusiano”, termo inexistente, porém, infinitamente, mais adequado, uma vez que “cristo” é, meramente, uma “tatuagem” clerical aplicada a um Espírito iluminado, mas, sem dúvidas, um de nós, por fim, “pensamento” este que exala a mais pura filosofia de vida, de racionalismo, de ideal, de lógica entre infinitos outros adjetivos filosóficos, que além de Aristóteles, abraça imensurável lista de pensadores com a mais poderosa síntese universal já versada “...Amai o próximo como a ti mesmo e a Deus sobre todas as coisas...” , nessa frase, está o resumo do Universo! E fica, desde já desafiado, o mais sábio entre os homens que, conscientemente, desminta tal afirmativa. Isso porque somos Um e, enfim, somos Ele!

É evidente a objetividade, já no termo inicial e determinante da frase, e esta se expressa; “Amai” mas não, “Adorai”, é fundamental essa observação. O “amor” manifesta a nobreza do espírito no mais profundo entendimento do “termo” e do “Ser”. A “adoração” simplesmente situaria o sujeito indeterminado da ação à condição de dependência unilateral, isto é, debaixo para cima, pregaria a idolatria e não o envolvimento mútuo entre o sujeito e o objeto. Isso não é romantismo, é puramente hermenêutica, instrumento utilizado, especificamente, pelos “religiosos” para interpretar, exatamente, o que entendem por “sagrado”. Portanto, quem construiu essa frase era profundo conhecedor do “logos”, dominava com expressiva abrangência a logotecnia.

Ora! Aí estão os opostos, os iguais, móveis, imóveis, ideais, reais, lógicos, racionais, matemáticos, filosóficos, dinâmicos, estáticos, éticos e mais todos os predicados que toda a filosofia abrange e virá a abranger, à única exceção feita é, infelizmente, a mais aplicada equivocadamente..! Não existe, absolutamente, nada de “religioso1” na “equação” universal proposta pelo grandioso Espírito Jesus, “o Nazareno”.

Mas cremos, que o Caro Leitor já leu, no nosso primeiro trabalho a obra desse grande Espírito no capítulo (28) “Jususianismo”2. Baseados nessa conclusão, portanto, sabemos, é claro, que o mundo do “antes”, não é o mesmo que o mundo do “depois”.

Ainda que acobertado por milênios de falsas pregações cléricas, o Espírito Jesus virá à tona com suas legítimas afirmações e estas estão muito distantes das conhecidas pelo mundo ocidental, particularmente porque o clero adotou os princípios de “Paulo” e hoje é absolutamente sabido que o “apostolo torto” pregou seu próprio “cristianismo” em favor do sistema estado-sacerdotal dominante no período e, no capítulo abaixo, iremos aprofundar essa visão eclesiástica do entendimento “jesusiânico” em relação às teses “cristãs epistolares” adotadas pelas Igrejas de todas as atuais religiões que, embora aparentam distância do catolicismo, são, de fato, parte dele.

De fato, isso é promessa feita no nosso trabalho anterior, vale dizer que no que segue não se apresentará novas verdades, realmente, se demonstrará que não existem verdades sem alicerce (documento) e, convenhamos, o “novo testamento” não é propriamente um documento, seus relatos servem a interesses particulares não universais.






























“Se o coração permite, os olhos vêem...”

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